segunda-feira, 27 de outubro de 2008

...a água só não tava fria como de costume, pois o sol entrepassava pelo dossel da floresta e coloria de calor boa parte daquele instante. O curso, vinha, ou ia, dependia apenas de qual pedra eu dormia...
...os pés atentos por saber, que se a pedra escorrega, cuidado: de bunda no mato, e não vai ter ninguém pra ver; Então quieta! tem formiga subindo te dando belisco. Suspira e acalma. O sol ta querendo entrar...então olha devagar...
...testa o medo dessa solidão; é suave a brisa que movimenta esse riacho e a mágica ta em tudo ser beleza; não descrevo...mas eternamente naquele instante de luz, embriago a alma com um silêncio arrebatador, daqueles que nem os mais sábios saberiam calcular;
...Como colorir fruta no pé...ou notar os pequenos ossos das borboletas.
...Compartilhemos a terra com o coração dos que se tornam menos sábios; por esconder que a única felicidade é naturalmente a contemplação de construir um riacho que escurece mais tarde todos os dias de verão....

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

questão de vestibular

O Bicho

Vi ontem um bicho
na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos

Quando achava alguma coisa
Não examinava nem cheirava
Engolia com voracidade

O bicho não era um cão
Não era um gato
Não era um rato

O bicho, meu Deus, era um homem.
[Manuel Bandeira]

interpretação do texto:

1. A que problema o autor se refere no texto:

a) Contra-bando de animais
b) A fome
c) Devastação de florestas
d) Falta de saneamento básico
e) Alcoolismo

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Fila única

Sabemos, sem margem de dúvidas, que estamos a beira do abismo.
Tá vindo dos céus, das cegonhas, das abóboras um bando de seres destinados a beirar esse abismo eternamente; humanos-seres impossibilitados de germinal uma só grande idéia.
Sâo vendados, empurrados para que sigam em extensas filas rumo um buraco qualquer.
Não se aflingem, nem se cansam de ficar em pé, vivem o ontem, vivem o hoje e nem cogitam um amanhã.
Aguardam estáticos sempre atrás de alguém; nunca andam para a frente...
O único medo é o de olhar as enferrujadas correntes que atam os pés pois um tropeço basta, para que a fila inteira caia.

No fim do buraco, há um amontoado de carne; comida de urubu;
As correntes são rapidamente recolhidas, antes que as cegonhas jogem de novo outros tantos seguidores de fila. A mesma podre fila rumo o eco da desordem de um buraco negro qualquer...

sábado, 11 de outubro de 2008


Fim do Prólogo [...]

É preciso notar que, no momento em que o polícia lhe dá a caixa, ela está invadida por uma emoção extraordinária, que a isola completamente de tudo. Ela está como que subjugada pelos ecos de uma longínqua música religiosa: talvés uma música ouvida em sua mais tenra infância.O público, satisfeita a curiosidade, começa a se dispersar em todas direções.Essa cena é vista pelas personagens que deixamos no quarto do terceiro andar. Vêmo-las através dos vidros do balcão, de onde se pode ver o fim da cena acima descrita. Quando o agente entrega a caixa à moça, as duas personagens do balcão parecem, também elas, invadidas pela mesma emoção, emoção que chega até às lágrimas. Suas cabeças balançam como se seguissem o ritmo daquela música impalpável.A personagem olha a moça e faz-lhe um gesto que parece significar: "Viste? Não te disse?".Ela olha novamente na rua a moça que agora está só, como que pregada no chão, em estado de inibição absoluta. Passam autos em velocidades vertiginosas. De repente, um deles passa por cima dela, mutilando-a terrivelmente.[...] ( O cão Andaluz)


paranóia crítica

Tens a chave de suas jaulas em mãos
(e sem dominar teu saber), sabe disso;
mas mantem-se ali por puro medo.
Saiba homem prisioneiro:
- Basta fechar os olhos daí de dentro de tua gaiola;
para que tenha o poder de explodir um mundo-inteiro.

No entanto, abandonado confortavelmente nas poltronas de sua sala escura,
deslumbra-se pela luz e pelo movimento;
que quase hipnotizam .
Os rosto humanos (iguais ao teu) fascinam-te a ponto de alegrar-se pela bruta mudança de ambientes.
Tua desgraça faz que aceite os lugares comuns mais depreciados.

Espectador dos seres e de coisas concretas:
-Isóla-te em seu habitat psíquico, que assim, quase adormece graças ao silêncio da escuridão.
Êxtase!!! Nenhuma outra expressão humana melhor define essa vergonha.
Mas melhor que qualquer coisa, esse estado é capaz de embrutecê-lo.

Tuas portas dominam tuas entradas. Caluniam para teus ouvidos; escondem as chaves; mudam as fechaduras;
Nem se quisesse se libertar.
(Mas não quer!!!)
Elas sofrem para ter grande cuidado em não perturbar tua tranqüilidade.
Deixando fechada a maravilhosa janela da tela sobre o mundo libertador da poesia.
Optam por fazê-lo refletir parcialmente os argumentos que podem compor uma continuação dessa nossa vida comum ( repetindo mil vezes o mesmo drama ou fazendo esquecer as horas penosas do trabalho diário.)!

Tudo isso, naturalmente,
ratificado pela moral habitual,
pela censura governamental e internacional,
pela religião,
dominado pelo bom-gosto e temperado humor branco;
entre imperativos prosaicos da nossa realidade.

Fantástico! O que há de mais admirável aqui?!
É sentir que a vida subconsciente,
penetra as raízes tão profundamente em poesia?
Coisas...
...Aparecem e desaparecem por intermédio de fusões;
O tempo e o espaço tornam-se flexíveis, retraem-se ou distendem-se à vontade;
a ordem cronológica e os valores de duração não correspondem mais àquilo real;
os movimentos aceleram todos os teus atrasos.
e subconscientemente, não sabe mais o que são as cores.
Aí está o fantástico. Ele não existe: tudo é real!

Oh frágil escravo da condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo..

O melhor instrumento para exprimir o mundo dos sonhos, das emoções e do instinto...
O mecanismo criador de imagens cinematográficas é, por funcionamento,
O que entre todos os meios de expressão humana, lembra melhor o trabalho do espírito durante o sono.
O filme parece uma imitação involuntária do sonho.

Surgindo todas às vezes que a imaginação se manifesta livremente; sem a trava do espírito crítico.
O que vale é o impulso psíquico no ponto onde a razão humana perde o controle!

Porque cada um verte uma dose de afetividade sobre o que olha e ninguém vê as coisas como elas são; mas como teus desejos e seu estado de alma o fazem ver.

De minha parte, eu luto pelo cinema a.(i).[su].rreal,
porque esse cinema me dará visão integral da realidade,
aumentará meu conhecimento das coisas e dos seres,
me abrirá o mundo maravilhoso do desconhecido,
de tudo o que não encontro na imprensa diária ou na rua.
Aqui proponho a restauração dos sentimentos humanos
e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem.
Prego a destruição dessa sociedade em que vivemos
e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases.
Dessa forma, pretendo atingir uma outra realidade,
situada no plano do subconsciente e do inconsciente.

A fantasia,
os estados de tristeza
e a melancolia
exercem grande atração nessa linguagem...

seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira,
vamos
Revolucionar esse romantismo bucólico;
destruir a representação convencional da natureza dessas relações medíocres;
quebrar o otimismo do mundo burguês ;
e fazer com que tantas almas presas duvidem da perenidade da ordem existente,
ainda que não tome ostensivamente partido algum.

Será que o sonho não pode ser também aplicado à solução das questões fundamentais da vida?




Na Primavera [...]

Tudo está mudado. Agora, vê-se um deserto sem fim. Plantados no centro, enterrados na areia até o peito, vê-se a personagem principal e a moça, cegos, as roupas esfarrapadas, devorados pelos raios de sol e por uma nuvem de insetos [...]

sábado, 4 de outubro de 2008

desenho em branco e preto.

...sabe lá quais são as palavras que aqui cabe alguém expressar.Todo esse sentimento guardado; isolado;revoltado;toda essa angústia e falta de espaço que tenho pra esticar minhas grandes pernas. sabe lá. não é culpa dos meus pais e sei muito bem que a sorte qual conti desde meu primeiro momento;além de rara nos tempos de hoje, só chamo de sorte pois não pude nem escolher saber qual o sabor da Liberdade. Ninguém que venha a ter razão de alguma coisa durante toda ou qualquer parte de sua existência sabe realmente do que tou falando. E pra falar de Liberdade quando se enraivece ao ter que falar com máquinas;traduzir placas;atravessar em faixas;correr pra não dormir no ponto, é preciso sonhar.Acordada, que seja! Cantar a única sorte de vir as caras ao invés da coroa. Pá que dizia ´rabuuuda menina vai contar até mil ali naquela esquina´. Num pé só ia e ria quando depois do mil não mais sabia; Se alguma liberdade queria, corria e dormia...sabe lá quais cores que via.
sin-tierra.sin-techo.los desocupados.los movimientos barriales.movimientos contra el precio de los medios de transporte.movimineto de cartoneros.movimientos indigenas.cooperativas de productores y consumidores con perspectivas autogestionarias.sectores del sindicalismo.luchas estudantiles y por la democratización de la educación.movimientos de los afectados por las represas.radio libres.movimientos contra la violência policial.movimientos de mujeres contra el patriarcado y en favor de aborto.movimientos artísticos y culturales.movimientos de consejos populares.movimientos de defensa de la comunicación independiente.movimientos ambientales.movimiento negro.movimiento gay...etc[...]

...9 de abril

"Aflição de meu apartamento. Ilimitadas. Consegui trabalhar em algumas noites. Se tivesse podido continuar tôda a noite! Hoje, o ruído impede-me de dormir, trabalhar, tudo."

...1915

25 de fevereiro

Depois de vários dias de dor de cabeça constante, por fim me sinto um pouco mais livre e confiante. Se eu fosse outro, que me comtempla de fora e vê o curso de minha vida, diria certamente que tudo isto deve terminar em nada, consumir-se em uma dúvida incessante que apenas posso inventar mortificações. Mas em meu caráter de parte interessada, continuo esperando.
Franz Kafka(DIÁRIOS)