sábado, 11 de outubro de 2008

Fim do Prólogo [...]

É preciso notar que, no momento em que o polícia lhe dá a caixa, ela está invadida por uma emoção extraordinária, que a isola completamente de tudo. Ela está como que subjugada pelos ecos de uma longínqua música religiosa: talvés uma música ouvida em sua mais tenra infância.O público, satisfeita a curiosidade, começa a se dispersar em todas direções.Essa cena é vista pelas personagens que deixamos no quarto do terceiro andar. Vêmo-las através dos vidros do balcão, de onde se pode ver o fim da cena acima descrita. Quando o agente entrega a caixa à moça, as duas personagens do balcão parecem, também elas, invadidas pela mesma emoção, emoção que chega até às lágrimas. Suas cabeças balançam como se seguissem o ritmo daquela música impalpável.A personagem olha a moça e faz-lhe um gesto que parece significar: "Viste? Não te disse?".Ela olha novamente na rua a moça que agora está só, como que pregada no chão, em estado de inibição absoluta. Passam autos em velocidades vertiginosas. De repente, um deles passa por cima dela, mutilando-a terrivelmente.[...] ( O cão Andaluz)


paranóia crítica

Tens a chave de suas jaulas em mãos
(e sem dominar teu saber), sabe disso;
mas mantem-se ali por puro medo.
Saiba homem prisioneiro:
- Basta fechar os olhos daí de dentro de tua gaiola;
para que tenha o poder de explodir um mundo-inteiro.

No entanto, abandonado confortavelmente nas poltronas de sua sala escura,
deslumbra-se pela luz e pelo movimento;
que quase hipnotizam .
Os rosto humanos (iguais ao teu) fascinam-te a ponto de alegrar-se pela bruta mudança de ambientes.
Tua desgraça faz que aceite os lugares comuns mais depreciados.

Espectador dos seres e de coisas concretas:
-Isóla-te em seu habitat psíquico, que assim, quase adormece graças ao silêncio da escuridão.
Êxtase!!! Nenhuma outra expressão humana melhor define essa vergonha.
Mas melhor que qualquer coisa, esse estado é capaz de embrutecê-lo.

Tuas portas dominam tuas entradas. Caluniam para teus ouvidos; escondem as chaves; mudam as fechaduras;
Nem se quisesse se libertar.
(Mas não quer!!!)
Elas sofrem para ter grande cuidado em não perturbar tua tranqüilidade.
Deixando fechada a maravilhosa janela da tela sobre o mundo libertador da poesia.
Optam por fazê-lo refletir parcialmente os argumentos que podem compor uma continuação dessa nossa vida comum ( repetindo mil vezes o mesmo drama ou fazendo esquecer as horas penosas do trabalho diário.)!

Tudo isso, naturalmente,
ratificado pela moral habitual,
pela censura governamental e internacional,
pela religião,
dominado pelo bom-gosto e temperado humor branco;
entre imperativos prosaicos da nossa realidade.

Fantástico! O que há de mais admirável aqui?!
É sentir que a vida subconsciente,
penetra as raízes tão profundamente em poesia?
Coisas...
...Aparecem e desaparecem por intermédio de fusões;
O tempo e o espaço tornam-se flexíveis, retraem-se ou distendem-se à vontade;
a ordem cronológica e os valores de duração não correspondem mais àquilo real;
os movimentos aceleram todos os teus atrasos.
e subconscientemente, não sabe mais o que são as cores.
Aí está o fantástico. Ele não existe: tudo é real!

Oh frágil escravo da condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo..

O melhor instrumento para exprimir o mundo dos sonhos, das emoções e do instinto...
O mecanismo criador de imagens cinematográficas é, por funcionamento,
O que entre todos os meios de expressão humana, lembra melhor o trabalho do espírito durante o sono.
O filme parece uma imitação involuntária do sonho.

Surgindo todas às vezes que a imaginação se manifesta livremente; sem a trava do espírito crítico.
O que vale é o impulso psíquico no ponto onde a razão humana perde o controle!

Porque cada um verte uma dose de afetividade sobre o que olha e ninguém vê as coisas como elas são; mas como teus desejos e seu estado de alma o fazem ver.

De minha parte, eu luto pelo cinema a.(i).[su].rreal,
porque esse cinema me dará visão integral da realidade,
aumentará meu conhecimento das coisas e dos seres,
me abrirá o mundo maravilhoso do desconhecido,
de tudo o que não encontro na imprensa diária ou na rua.
Aqui proponho a restauração dos sentimentos humanos
e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem.
Prego a destruição dessa sociedade em que vivemos
e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases.
Dessa forma, pretendo atingir uma outra realidade,
situada no plano do subconsciente e do inconsciente.

A fantasia,
os estados de tristeza
e a melancolia
exercem grande atração nessa linguagem...

seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira,
vamos
Revolucionar esse romantismo bucólico;
destruir a representação convencional da natureza dessas relações medíocres;
quebrar o otimismo do mundo burguês ;
e fazer com que tantas almas presas duvidem da perenidade da ordem existente,
ainda que não tome ostensivamente partido algum.

Será que o sonho não pode ser também aplicado à solução das questões fundamentais da vida?




Na Primavera [...]

Tudo está mudado. Agora, vê-se um deserto sem fim. Plantados no centro, enterrados na areia até o peito, vê-se a personagem principal e a moça, cegos, as roupas esfarrapadas, devorados pelos raios de sol e por uma nuvem de insetos [...]

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